segunda-feira, 16 de maio de 2011

Alergia Alimentar

A alergia alimentar faz parte de um grupo de doenças chamadas reações adversas aos alimentos e atinge cerca de 6 a 8% das crianças. Estas reações podem ser classificadas em tóxicas e não tóxicas. As reações tóxicas podem ocorrer pela ingestão de alimentos contaminados (Ex. toxina botulínica que pode estar presente no mel) e as reações não tóxicas podem ter a participação do sistema imunológico (alergia alimentar) ou não (intolerância alimentar).
 
Os alimentos mais comumente associados à alergia alimentar são leite, ovos, amendoim, castanhas, peixe e frutos do mar. Em crianças abaixo de dois anos de idade a alergia ao leite de vaca é a mais freqüente acometendo 3 a 4% das crianças, especialmente aquelas com história familiar positiva para asma, rinite ou alergia alimentar no pai, mãe ou irmão.

 Por vezes, há confusão entre intolerância à lactose  e alergia ao leite de vaca. Na intolerância à lactose as manifestações clínicas (diarréia, distensão abdominal, cólicas e assaduras) são decorrentes da presença do açúcar do leite (lactose) intacto na luz intestinal, por ausência ou baixa produção da enzima lactase não é possível para a criança realizar a digestão e absorção deste açúcar. Resumidamente, na intolerância à lactose ocorrem reações locais (intestinais) relacionadas ao açúcar do leite (lactose) e não às suas proteínas.

 Para o tratamento da intolerância à lactose não é necessário retirar completamente o leite e derivados da alimentação da criança. A família, sob a orientação de um profissional de saúde, pode  permitir que a criança receba leite (em quantidades que possa tolerar sem sintomas), preparações com leite de vaca e principalmente derivados com menor quantidade de lactose ou com facilitadores da digestão e absorção (iogurtes com probióticos, queijos e manteiga). Há também no mercado fórmulas infantis e leites com baixo conteúdo de lactose que podem ser oferecidos à maioria das crianças com intolerância à lactose.

 Na alergia ao leite de vaca a reação, com a participação do sistema imunológico, é dirigida contra as proteínas do leite. Há várias manifestações clínicas que podem estar associadas à alergia ao leite de vaca e, sendo assim, é fundamental que o diagnóstico seja realizado por um profissional de saúde. Entre os sintomas e sinais relacionados podemos citar: manifestações de pele (placas vermelhas elevadas (urticária), vermelhidão na pele com prurido, chiado no peito, coceira no nariz, fezes com sangue, diarréia, até manifestações muito graves como as reações anafiláticas (inchaço na garganta e falta de ar com necessidade de atendimento imediato em serviço de emergência). O tratamento na alergia ao leite de vaca consiste na retirada total do leite de vaca da dieta da criança, de seus derivados e preparações. Especialmente na criança abaixo de dois anos há necessidade após a confirmação do diagnóstico do uso de fórmulas infantis apropriadas (fórmulas de proteína isolada de soja, extensamente hidrolisadas ou de aminoácidos). A decisão de qual fórmula utilizar deve ser sempre feita por profissional de saúde habilitado. O uso de substitutos não apropriados pode levar a criança com alergia ao leite de vaca ao risco de desnutrição, comprometimento do crescimento estatural, anemia, deficiência de cálcio, entre outras complicações. Há no Estado de São Paulo um programa de fornecimento gratuito, mediante o diagnóstico, de fórmulas infantis especiais para crianças com alergia ao leite de vaca.

 Em relação à prevenção da alergia ao leite de vaca, cabe salientar a importância da promoção do aleitamento materno que deve ser praticado de forma exclusiva até o sexto mês e mantido até dois anos ou mais, com a introdução de alimentação complementar balanceada, variada e equilibrada, sob orientação do pediatra.

 Para maiores informações entre em contato com o Instituto Girassol – Grupo de Apoio aos Portadores de Necessidades Nutricionais Especiais pelo telefone 08007739000 ou pelo email: girassol@girassolinstituto.org.br.


Roseli Oselka Saccardo Sarni
Pediatra com área de atuação em nutrologia e terapia nutricional parenteral e enteral.
Doutora em Medicina pela Unifesp. Médica Assistente e Pesquisadora da Disciplina de Alergia, Imunologia clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Unifesp. Professora assistente e Coordenadora do Serviço de Nutrologia do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC.
Email de contato: rssarni@gmail.com

Anemia e deficiência de ferro em crianças abaixo de dois anos de idade: como evitar esta doença?

A anemia por deficiência de ferro é uma doença grave que afeta cerca de 20 a 40% das crianças, especialmente na fase de lactentes, ou seja, nos dois primeiros anos de vida, e que apresenta sérias complicações em curto e longo prazo.
Infelizmente, sabe-se que a anemia (queda da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio aos tecidos) é uma manifestação mais tardia da deficiência de ferro, um elemento fundamental em várias funções no organismo: crescimento, desenvolvimento e na defesa contra infecções. A deficiência de ferro, antes de a anemia instalar-se, já compromete a saúde da criança e, portanto, a prevenção deve ser sempre considerada.
Pesquisas confirmam que crianças que apresentaram anemia ou deficiência de ferro nos dois primeiros anos de vida demonstram comprometimento no desenvolvimento cognitivo e na capacidade de aprendizado que persiste na vida adulta.
Para prevenir a anemia e a deficiência de ferro alguns cuidados com devem ser tomados com a alimentação de crianças nos dois primeiros anos de vida:
  1. aleitamento materno exclusivo até os seis meses, sem oferecer água, sucos, chás ou quaisquer outros alimentos. É fundamental que as mães tenham uma alimentação rica em ferro e que recebam suplementação medicamentosa, durante a gestação e a lactação. O leite materno fornece a quantidade adequada de ferro e, também, de outros elementos que facilitam a sua absorção – crianças em aleitamento materno exclusivo não necessitam de suplementação de ferro.  Aos 6 meses de vida cerca de 70% das necessidades de ferro da criança precisam ser supridas pela alimentação complementar, pois há uma queda fisiológica no conteúdo de ferro do leite materno, independentemente de quanto à mãe ingere desse mineral;
  2. a partir dos seis meses, introduzir a alimentação complementar equilibrada e balanceada lembrando-se de incluir boas fontes de ferro na alimentação (Tabela 1) e mantendo o aleitamento materno até dois anos de idade ou mais. É recomendado que nas duas papas como refeição principal a criança receba 70 a 100 g de carne (Ex. bovina ou de frango), sendo a carne bovina oferecida preferencialmente ao menos 3 vezes por semana e, também, que o conteúdo de vitamina C (frutas cítricas e verduras), que facilita a absorção do ferro, seja adequado nas refeições. Crianças entre 7 e 12 meses e 1 a 3 anos de idade necessitam de 11 e 7 mg de ferro ao dia, respectivamente;
  3. na impossibilidade do aleitamento materno oferecer à criança no primeiro ano de vida fórmulas infantis (produtos que atendem as necessidades nutricionais da criança nessa fase da vida). As sociedades científicas internacionais e nacionais (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomendam que o leite de vaca integral (forma líquida ou em pó) não deveria ser oferecido a crianças abaixo de 1 ano, entre outras razões, pelo seu baixo conteúdo de ferro e reduzida capacidade de absorção. A baixa capacidade de absorção do ferro no leite de vaca integral é decorrente da grande quantidade de cálcio no leite de vaca (mineral que interfere na absorção do ferro). Acima de um ano de idade a criança já pode receber leite de vaca integral, mas o volume diário não deve ultrapassar 700 ml, distribuído em três tomadas (manhã, lanche da tarde e à noite) lembrando que o leite não deve ser dado junto às refeições principais. Ex: crianças acima de 1 ano que não aceitam bem o almoço ou jantar não devem receber leite de vaca em substituição ou complementação, neste horário. boa higiene dos utensílios empregados na preparação e oferta de alimentos é fundamental. A contaminação dos utensílios reduz a absorção do ferro;
  4. leve regularmente a criança ao pediatra para receber as orientações adequadas de alimentação nas diferentes faixas de idade, monitorar o crescimento e receber orientações sobre a necessidade de uso de suplementos de ferro medicamentoso para prevenção ou tratamento da anemia. A partir da interrupção do aleitamento materno exclusivo, crianças que não recebem pelo menos 500 mL de fórmula infantil ao dia, precisam receber suplementos de ferro. O pediatra orientará a quantidade correta que deve ser oferecida, para prevenção da anemia e deficiência de ferro, até os dois anos de idade.

TABELA 1. CONTEÚDO DE FERRO E SUA BIODISPONIBILIDADE* EM ALGUNS ALIMENTOS

ALIMENTO
TEOR DE FERRO
MEDIDA CASEIRA (100G)
BIODISPONIBILIDADE
CARNES
Bovina (magra)
4,0
4 colheres de sopa ou
 1 bife médio e fino
Alta
Suína (lombo)
3,2
1 bife médio e fino
Alta
Peixes (anchova)
1,4
1 filé médio
Alta
Galinha
1,7
4 colheres sopa rasa
Alta
VÍSCERAS
Fígado bovino
5,1
1 bife médio e fino
Alta
Coração
5,4
1 xícara chá rasa
Alta
Miúdos de galinha
4,3
1 xícara chá rasa
Alta
OVO
Gema
2,3
5 gemas
Baixa
Inteiro “poached
2,2
2 ovos
Baixa
LEITE
Humano
0,5
1 xícara de chá
Alta
Vaca pasteurizado
0,1
1 xícara de chá
Baixa
LEGUMINOSAS
Lentilha
2,1
12 colheres de sopa
Baixa
Soja
3,4
12 colheres de sopa
Baixa
Soja (farinha)
8,8
10 colheres de sopa
Baixa
Feijão vermelho
2,4
12 colheres de sopa
Baixa
Ervilha
1,8
12 colheres de sopa
Baixa
CEREAIS
Cereais matinais
12,5
1 xícara de chá
Alta
Farinha láctea
4,0
7 colheres de sopa
Alta
Aveia (farinha)
4,5
7 colheres de sopa
Baixa
Aveia (flocos)
3,5
7 colheres de sopa
Baixa
HORTALIÇAS
Nabo
0,4
3 médios
Alta
Brócolis
1,3
1 xícara de chá
Alta
Couve crua /cozida
2,2/ 0,7
10 folhas médias
Média
Batata inglesa
0,5
2 batatas médias
Média
Cenoura crua/cozida
0,7/0,6
2 cenouras médias ou 1 xícara de chá
Média
Espinafre
3,2
4 colheres de sopa
Baixa
Beterraba
0,8
1 xícara de chá
Baixa
FRUTAS
Suco de limão
0,6
4 colheres de sopa
Alta
Açaí (polpa)
11,8
1 colher sobremesa
Alta
Laranja
0,7
1 pequena
Alta
Banana prata
2,0
1 média
Média
Manga
0,8
5 pedaços médios
Média
Abacate
0,7
Meio médio
Baixa
Fonte: Manual de Alimentação, Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br), 2008.
*Biodisponibilidade – quantidade de ferro que o organismo consegue absorver. Os alimentos de alta biodisponibilidade são os que contêm ferro de melhor absorção.