Infelizmente, sabe-se que a anemia (queda da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio aos tecidos) é uma manifestação mais tardia da deficiência de ferro, um elemento fundamental em várias funções no organismo: crescimento, desenvolvimento e na defesa contra infecções. A deficiência de ferro, antes de a anemia instalar-se, já compromete a saúde da criança e, portanto, a prevenção deve ser sempre considerada.
Pesquisas confirmam que crianças que apresentaram anemia ou deficiência de ferro nos dois primeiros anos de vida demonstram comprometimento no desenvolvimento cognitivo e na capacidade de aprendizado que persiste na vida adulta.
Para prevenir a anemia e a deficiência de ferro alguns cuidados com devem ser tomados com a alimentação de crianças nos dois primeiros anos de vida:
- aleitamento materno exclusivo até os seis meses, sem oferecer água, sucos, chás ou quaisquer outros alimentos. É fundamental que as mães tenham uma alimentação rica em ferro e que recebam suplementação medicamentosa, durante a gestação e a lactação. O leite materno fornece a quantidade adequada de ferro e, também, de outros elementos que facilitam a sua absorção – crianças em aleitamento materno exclusivo não necessitam de suplementação de ferro. Aos 6 meses de vida cerca de 70% das necessidades de ferro da criança precisam ser supridas pela alimentação complementar, pois há uma queda fisiológica no conteúdo de ferro do leite materno, independentemente de quanto à mãe ingere desse mineral;
- a partir dos seis meses, introduzir a alimentação complementar equilibrada e balanceada lembrando-se de incluir boas fontes de ferro na alimentação (Tabela 1) e mantendo o aleitamento materno até dois anos de idade ou mais. É recomendado que nas duas papas como refeição principal a criança receba 70 a 100 g de carne (Ex. bovina ou de frango), sendo a carne bovina oferecida preferencialmente ao menos 3 vezes por semana e, também, que o conteúdo de vitamina C (frutas cítricas e verduras), que facilita a absorção do ferro, seja adequado nas refeições. Crianças entre 7 e 12 meses e 1 a 3 anos de idade necessitam de 11 e 7 mg de ferro ao dia, respectivamente;
- na impossibilidade do aleitamento materno oferecer à criança no primeiro ano de vida fórmulas infantis (produtos que atendem as necessidades nutricionais da criança nessa fase da vida). As sociedades científicas internacionais e nacionais (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomendam que o leite de vaca integral (forma líquida ou em pó) não deveria ser oferecido a crianças abaixo de 1 ano, entre outras razões, pelo seu baixo conteúdo de ferro e reduzida capacidade de absorção. A baixa capacidade de absorção do ferro no leite de vaca integral é decorrente da grande quantidade de cálcio no leite de vaca (mineral que interfere na absorção do ferro). Acima de um ano de idade a criança já pode receber leite de vaca integral, mas o volume diário não deve ultrapassar 700 ml, distribuído em três tomadas (manhã, lanche da tarde e à noite) lembrando que o leite não deve ser dado junto às refeições principais. Ex: crianças acima de 1 ano que não aceitam bem o almoço ou jantar não devem receber leite de vaca em substituição ou complementação, neste horário. boa higiene dos utensílios empregados na preparação e oferta de alimentos é fundamental. A contaminação dos utensílios reduz a absorção do ferro;
- leve regularmente a criança ao pediatra para receber as orientações adequadas de alimentação nas diferentes faixas de idade, monitorar o crescimento e receber orientações sobre a necessidade de uso de suplementos de ferro medicamentoso para prevenção ou tratamento da anemia. A partir da interrupção do aleitamento materno exclusivo, crianças que não recebem pelo menos 500 mL de fórmula infantil ao dia, precisam receber suplementos de ferro. O pediatra orientará a quantidade correta que deve ser oferecida, para prevenção da anemia e deficiência de ferro, até os dois anos de idade.
TABELA 1. CONTEÚDO DE FERRO E SUA BIODISPONIBILIDADE* EM ALGUNS ALIMENTOS | ||||
ALIMENTO | TEOR DE FERRO | MEDIDA CASEIRA (100G) | BIODISPONIBILIDADE | |
CARNES | Bovina (magra) | 4,0 | 4 colheres de sopa ou 1 bife médio e fino | Alta |
Suína (lombo) | 3,2 | 1 bife médio e fino | Alta | |
Peixes (anchova) | 1,4 | 1 filé médio | Alta | |
Galinha | 1,7 | 4 colheres sopa rasa | Alta | |
VÍSCERAS | Fígado bovino | 5,1 | 1 bife médio e fino | Alta |
Coração | 5,4 | 1 xícara chá rasa | Alta | |
Miúdos de galinha | 4,3 | 1 xícara chá rasa | Alta | |
OVO | Gema | 2,3 | 5 gemas | Baixa |
Inteiro “poached | 2,2 | 2 ovos | Baixa | |
LEITE | Humano | 0,5 | 1 xícara de chá | Alta |
Vaca pasteurizado | 0,1 | 1 xícara de chá | Baixa | |
LEGUMINOSAS | Lentilha | 2,1 | 12 colheres de sopa | Baixa |
Soja | 3,4 | 12 colheres de sopa | Baixa | |
Soja (farinha) | 8,8 | 10 colheres de sopa | Baixa | |
Feijão vermelho | 2,4 | 12 colheres de sopa | Baixa | |
Ervilha | 1,8 | 12 colheres de sopa | Baixa | |
CEREAIS | Cereais matinais | 12,5 | 1 xícara de chá | Alta |
Farinha láctea | 4,0 | 7 colheres de sopa | Alta | |
Aveia (farinha) | 4,5 | 7 colheres de sopa | Baixa | |
Aveia (flocos) | 3,5 | 7 colheres de sopa | Baixa | |
HORTALIÇAS | Nabo | 0,4 | 3 médios | Alta |
Brócolis | 1,3 | 1 xícara de chá | Alta | |
Couve crua /cozida | 2,2/ 0,7 | 10 folhas médias | Média | |
Batata inglesa | 0,5 | 2 batatas médias | Média | |
Cenoura crua/cozida | 0,7/0,6 | 2 cenouras médias ou 1 xícara de chá | Média | |
Espinafre | 3,2 | 4 colheres de sopa | Baixa | |
Beterraba | 0,8 | 1 xícara de chá | Baixa | |
FRUTAS | Suco de limão | 0,6 | 4 colheres de sopa | Alta |
Açaí (polpa) | 11,8 | 1 colher sobremesa | Alta | |
Laranja | 0,7 | 1 pequena | Alta | |
Banana prata | 2,0 | 1 média | Média | |
Manga | 0,8 | 5 pedaços médios | Média | |
Abacate | 0,7 | Meio médio | Baixa | |
Fonte: Manual de Alimentação, Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br), 2008. |
*Biodisponibilidade – quantidade de ferro que o organismo consegue absorver. Os alimentos de alta biodisponibilidade são os que contêm ferro de melhor absorção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário