domingo, 26 de junho de 2011

Tempos modernos e a saúde infantil

O desenvolvimento industrial e o aumento na urbanização trouxeram inúmeros benefícios para a sociedade moderna, por outro lado, acarretaram uma vida mais sedentária, recoberta de facilidades, além de grandes mudanças no padrão alimentar. A informatização e o avanço tecnológico, as longas jornadas de trabalho, a redução na atividade física e as refeições rápidas, geraram mudanças bruscas no estilo de vida, aumentando os casos de obesidade e suas co-morbidades, como dislipidemias, hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes, tanto em adultos como em crianças, trazendo grande impacto na economia dos países.
Nas últimas duas décadas, a prevalência da obesidade em crianças, adolescentes e adultos aumentou de forma assustadora e, desde a década de 80, vários estudos revelaram que os casos de obesidade e sobrepeso superaram os da desnutrição infantil.
Diante desse cenário preocupante e que necessita de medidas preventivas, é na infância que podemos modificar esse quadro. A Academia Americana de Pediatria, em julho de 2008, propôs cuidados para o controle de dislipidemias na infância, como, por exemplo, medidas populacionais incentivando dieta saudável com redução de gorduras a partir de 2 anos de idade. Propôs ainda dosagem de colesterol total e frações (a partir de 2 anos de idade) além de triglicérides em todas as crianças e adolescentes com história familiar positiva de dislipidemia ou doença cardiovascular precoce (< 55 anos no homem e < 65 anos na mulher), quando a história familiar não é conhecida, e em pacientes com sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e tabagistas, recomendando repetir as dosagens em 3-5 anos caso as valores sejam anormais. Nesses casos, a perda de peso é o primeiro passo para o tratamento, com dieta equilibrada e aumento da atividade física.
Desse modo, antes mesmo do nascimento a criança deve receber dieta saudável, devendo a gestante preocupar-se com uma alimentação balanceada para não prejudicar a saúde de ambas. Após o nascimento, o aleitamento materno é de suma importância para a prevenção da obesidade, sendo recomendado de forma exclusiva até os 6 meses de idade e mantido até 2 anos de idade ou mais.
É importante lembrar que diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se procurar a orientação do Pediatra, para a definição de uma Fórmula Infantil, pois, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, o leite de vaca integral não é um alimento apropriado para crianças menores de um ano. Para as crianças em uso de Fórmulas Infantis, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir o mesmo preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos seis meses), estimulando-se sempre o consumo diário de frutas, verduras e legumes, evitando-se o açúcar, frituras, gorduras, refrigerantes, doces, salgadinhos, e guloseimas, além do uso moderado do sal.
Essas orientações alimentares devem ser respeitadas por toda a família, já que compete aos pais o exemplo de uma boa alimentação. A família deve se alimentar bem. As crianças comem o que os pais comem. Não é possível incentivar uma alimentação saudável só para a criança. Além dos pais, é necessária a conscientização dos familiares mais próximos, para que possamos ter uma verdadeira mudança na alimentação e no estilo de vida.
Juntamente com a família, a sociedade e a escola têm um papel muito importante nessa mudança, mediante constante incentivo à alimentação e aos hábitos de vida saudáveis, além do estimulo à prática esportiva bem aplicada. A merenda escolar deve conter alimentos saudáveis, e de bom valor nutricional, idealmente não dispondo de frituras, gorduras, refrigerantes, salgadinhos, bolachas recheadas, chocolates, sempre atentando para as quantidades, a fim de não comprometer a aceitação das refeições posteriores.
A prática esportiva regular também não deve ser esquecida, evitando-se assim a ociosidade excessiva das crianças, com programas de televisão e jogos de computador, como fator de prevenção das co-morbidades relacionadas com a obesidade e até mesmo como coadjuvante no tratamento dessas patologias.
O momento de mudarmos os hábitos de vida de nossas crianças é agora, para que não tenhamos muito em breve uma geração de obesos, com alta prevalência de doenças devastadoras.


Dra. Mariana Franceschini Falavina Grigoletto
A autora é pediatra em Valinhos na DOCTOR KIDS Clínica Materno Infantil.
mariana@doctorkids.com.br

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